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Atrás de EUA e China, à frente da França: como Brasil entra no jogo da IA

O governo brasileiro lançou o Plano Brasil de Inteligência Artificial no fim de julho. A iniciativa para lançar de vez o país na corrida tecnológica que tem movido o mundo chega mais de um ano e meio após o ChatGPT ter assustado o mundo no fim de 2022, mas com previsão de investimentos da ordem de R$ 23 bilhões.

Luciana Santos, ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, participou do “Deu Tilt!, o podcast do UOL para humanos por trás das máquinas, apresentado por Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes. Na conversa para explicar o plano do Brasil para IA do governo Lula, ela admite que o Brasil saiu atrás.

“Temos um investimento que mostra que estamos chegando, é verdade, um pouco atrás. Mas eu já fui atleta e, no atletismo, às vezes a gente começa uma corrida atrás e daqui a pouco está disputando o pódio”, Luciana Santos, ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação.

Ela afirma, no entanto, que o país reservou mais dinheiro que outras potências e vai apostar em ações que virem legado para além da tecnologia do momento. Isso inclui o incentivo a data centers sustentados por energia renovável e a transferência tecnológica para garantir soberania digital.

“O Brasil entra no jogo, de uma forma que não seremos meros consumidores ou fornecedor de dados para os gigantes tecnológicos globais. Estamos apostando em ter uma infraestrutura robusta que permita criar programas próprios de IA, soberania na produção, armazenamento e produção de dados. Vamos garantir um investimento de R$ 23 bilhões para os próximos cinco anos, mostrando que a gente chegou chegando. Para você ter ideia, no Reino Unido, essa cifra chega a R$ 18 bilhões em 10 anos. Na França, R$ 14 bilhões até 2030. Ou seja, a gente se compara com os investimentos que a União Europeia está fazendo. A gente não se compara só com EUA e China”, Luciana Santos.

Segundo as estimativas compiladas pelo governo brasileiro, o investimento privado dos EUA foi de R$ 380 bilhões em 2023 e os aportes públicos da China este ano em data center serão de R$ 306 bilhões.

Para a ministra, as oportunidades geradas pelo plano criarão uma necessidade por trabalhadores mais capacitados, que saibam desenvolver tecnologia de ponta.

“Vamos precisar de muitos doutores, de uma cadeia de profissionais, não necessariamente só da ciência da computação. Ou seja, vamos gerar uma demanda de ocupação e de profissionalização, a que precisaremos dar respostas”, Luciana Santos.

Supercomputador e nuvem soberana: a soberania digital do Brasil para IA
O plano de IA pretende ainda fortalecer a infraestrutura tecnológica brasileira por meio de um supercomputador robusto e de um sistema de computação em nuvem dedicado ao serviço público, chamado de “nuvem soberada”.

“Estaremos nos próximos cinco anos numa situação de top 5 de computador de alto desempenho, o que nos possibilitará produzir soluções de IA, de armazenamento e de integrar dados, na velocidade e escala que o assunto exige. Vamos estar aí no pódio da corrida tecnológica”, Luciana Santos.

O objetivo do Brasil é tão ambicioso quanto distante. O supercomputador perseguido pelo governo ficará no LNCC (Laboratório Nacional de Computação Científica), em Petrópolis (RJ). A ideia é turbinar o Santos Dumont, máquina com 5,1 petaflops/s (5,1 quatrilhões de operações matemáticas por segundo).

Na dianteira do Top500, projeto científico internacional que mapeia os mais potentes supercomputadores do mundo, a lista compreende do primeiro, o norte-americano Frontier e seus 1.206 petaflops/s, ao quinto, o finlandês Lumi e seus 379,7 petaflops/s.

A ministra, porém, classifica o objetivo como “ousado e ao mesmo tempo factível”.

Se cuida, ChatGPT: Como Brasil criará chatbot nacional
Uma das linhas de ação mais celebradas pela comunidade tecnológica brasileira é a que incentivará a criaçao de um LLM (grande modelo de linguagem, na sigla em inglês) brasileiro. Esta tecnologia é o “coração” por trás de chatbots como o ChatGPT. A ideia é que ele seja treinado com dados nacionais e compreenda português como primeira língua. O investimento será de R$ 1,1 e tem prazo curto, de 12 meses.

Juntamente com o supercomputador e a “nuvem soberana”, essa iniciativa visa ampliar a soberania digital do Brasil. Ainda assim, não desconsidera a participação das grandes empresas multinacionais, desde que transfiram tecnologia para o país.

“No processo de montagem do plano, as grandes empresas participaram. Fui muito clara: queremos uma troca, um aprendizado mútuo. E queremos, claro, ter o domínio tecnológico. (…) Há uma cobiça pelos nossos dados. Não vamos com isso abrir mão, mas haverá algum tipo de interseção (…) Mas vamos caminhar com aqueles que queiram caminhar conosco. A nossa vontade política é essa, e percebo que não há resistência por parte dessas grandes empresas, também pelo interesse do objetivo que tem em partilhar desse novo momento que estamos vivendo nessa revolução tecnológica”, Luciana Santos.

Fonte: TILT/UOL