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Do polegar à memória: é assim que corpo humano é deformado pela tecnologia

Atenção: talvez você esteja usando o celular errado! Dentre as muitas maneiras de a tecnologia modificar sua vida, uma das mais sérias é a alteração física. É isso que faz com que usar o dedão para teclar, apesar de confortável, não seja uma ideia a longo prazo.

“Quer dizer que o design, apesar de intuitivo, não é tão natural assim?”, Diogo Cortiz, colunista do UOL e apresentador do podcast Deu Tilt

Ele e Helton Simões Gomes, colunista do UOL, discutem como a forma com que o smartphones foi desenhado afeta parte do nosso corpo a longo prazo, a começar pelos dedões, passando pelo pescoço e desembocando na nossa memória.

O papo sobre os dedões foi inspirado na provocação feita pela também colunista do UOL Lúcia Helena, que disparou: “É errado teclar no celular com o dedão e você deveria usar o indicador”. Pelo teclado ser posicionado na parte de baixo do aparelho, os polegares automaticamente se tornam candidatos ideias ao posto de digitadores. Mas eles não são nem de longe os mais indicados.

“O dedão parou no tempo”, Helton Simões Gomes.

Os movimentos circulares feitos pelos polegares até fluem bem, mas não ocorre o mesmo com os de cliques repetitivos, como acontece ao usar um smartphone. No processo evolutivo, o dedão não se desenvolveu para esse tipo de movimento tão frequente, afirma Helton. Foi muito significativo para o Homo Sapiens desenvolver a habilidade de usar o polegar e indicador em formato de pinça.

“Um usuário normal chega a mais de dois mil microtoques na tela, e os heavy users chegam a mais de 5 mil toques, [algo] que o corpo não está preparado”, comenta Diogo Cortiz.

A longo prazo, destacam os dois, esse esforço repetitivo pode ser prejudicial.

“E aí a gente começa a pensar por um outro aspecto: quer dizer que o aparelho foi pensado para a gente usar de um jeito para o qual o nosso corpo não está preparado? A tecnologia foi na contramão de como nosso corpo se comporta?”, Helton Simões Gomes.

Diogo Cortiz avalia que esse cenário soa como uma controvérsia, visto que o design dos sistemas e dos próprios aparelhos foi supostamente pensado para garantir uma melhor experiência para o usuário.

“Se pensar que, de repente, deveríamos não digitar com o dedão, mas com o indicador, não é a melhor experiência de uso, mas é a mais saudável”,
Diogo Cortiz.

O celular afeta não só o dedão, mas também outras partes do corpo. É o caso do pescoço.

“Os músculos, as articulações e a própria espinha dorsal não foram projetados para fazer esse movimento de [ir] para baixo e voltar”, Helton Simões Gomes.

Esses problemas – tanto no caso do dedão, quanto do pescoço – já estão sendo estudados e já possuem nomes como “tendinite do texto” e “dor do pescoço do texto”.

“O pior dos cenários seria você combinar a digitação com os polegares e o pescoço inclinado em uma DR no WhatsApp, que dura três horas. Aí lascou”, Helton Simões Gomes .

Tem solução?
A proposta é apoiar os cotovelos em uma superfície, segurar o celular com uma das mãos e mantê-lo na altura dos olhos. É o dedo indicador da outra mão que realizará as ações.

“Então quer dizer que minha mãe é uma pioneira? Ela faz o uso correto do sistema”, Diogo Cortiz.

Memória em risco
Além dos aspectos físicos, há também impactos mentais no uso de celulares. “Nós não somos multitarefas, no processo atencional – com todas as evidências científicas – a gente gasta energia cognitiva para mudar de uma tarefa para outra”, ressalta Diogo Cortiz.

Helton também aponta que ao final do dia, esse consumo de energia cobra uma conta, afetando processos de memória, por exemplo. “Fica muito mais difícil não só tomar decisões, como fazer coisas básicas como lembrar o que estávamos pensando há cinco segundos”, diz.

Fonte: Tilt/UOL