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No baixo Tapajós, 12 mil jovens são formados para defender água da Amazônia

O encontro do rio Tapajós com o rio Amazonas acontece no município de Santarém, no oeste do Pará. Lá, quatorze povos tradicionais dão vida ao grande território Baixo dos Tapajós, que também passa pelo rio Arapiuns e é terra de mais de 7 mil indígenas. Junto com as comunidades ribeirinhas e quilombolas, iniciativas de incentivo à preservação de saberes, da floresta e dos rios, resistem ao avanço veloz do agronegócio e do garimpo.

Samara Borari, 20, é uma dessas indígenas que cresceu em Alter do Chão, em um território que corresponde a uma Área de Proteção Ambiental (APA), protegido pela legislação por ter um ecossistema diverso, onde vivem comunidades indígenas e ribeirinhas e é cercado por praias. Assistindo as transformações da região, ela logo cedo se interessou por projetos que ajudassem a reverter a situação. Ainda criança, se tornou Embaixadora das Águas.

Os jovens Embaixadores, que são responsáveis pela defesa das águas na Amazônia, iniciaram no projeto desde cedo, aos 8, 10 anos, assim como Samara, e hoje, já mais velhos, atuam como protagonistas em Audiências Públicas na Câmara de Vereadores de Santarém, dão entrevistas a veículos da imprensa e estão na linha de frente do projeto Escola D’Água.

“Meus pais foram criados em praias, eu sempre tive essa ligação muito forte com a água. Mas com o projeto, eu pude aprender sobre como cuidar dela”, explica Samara, que hoje estuda Ciências Biológicas na Ufopa (Universidade Federal do Oeste do Pará). “O projeto influenciou tanto na minha vida que a faculdade que eu escolhi teve muita influência dele”, completa.

Para encarar os problemas que surgem dessa relação de disputa pelo território amazônico, o primeiro passo dado pelos idealizadores do projeto Escola D’Água teve como questionamento principal ‘O que nós precisamos fazer para preservar nossas vidas?’.

“Esse foi o grande impulso para que nós pudéssemos nos envolver com o projeto que já estava acontecendo em outros países”, conta Lucineide Pinheiro, coordenadora do projeto e docente na Ufopa.

O Escola D’Água é uma iniciativa que acontece em cinco continentes, em países como Tailândia, China, Índia, Uganda e Áustria. Idealizado pelo Instituto Swarovski Waterschool, o projeto chegou até o Brasil em 2014, em Santarém, e funciona em parceria com o Instituto Mureru Eco Amazônia e com a Fundação Amazônia Sustentável (FAS).

A escola tem sido responsáveis por formar Embaixadores das Águas, rede de jovens engajados, que são preparados para se tornarem lideranças ambientais na região.

São eles que, em parceria com a Rede Ashoka, realizam rodas de conversa nas escolas da região sobre democracia e cidadania na Amazônia, por entenderem que a participação cidadã e a defesa dos direitos humanos têm tudo a ver com a preservação do meio ambiente e do território dos povos originários.

“A palavra deles tem uma força incrível. São lideranças de suas comunidades. É bem interessante porque muitos começaram bem pequenininhos”, relata a coordenadora do projeto.

Para a formação educacional das crianças e jovens da rede de Embaixadores, o projeto realiza todos os anos seminários de formação. Lucineide explica que a formação acompanha a trajetória dos jovens que saem do ensino fundamental, para o ensino médio, ingressam na universidade e seguem vivendo na mesma comunidade.

“É perceptível que às vezes as crianças e jovens só precisam de uma oportunidade para mostrar o quanto eles se importam com o meio ambiente, então, na escola, a gente consegue sensibilizar todos sobre esse bem tão precioso que está em risco de se acabar que é a água. Para mim uma das respostas mais incríveis do projeto é que eles estão entrando na universidade pública, focando realmente naquilo o que eles pretendem ser: lideranças, pesquisadores e cientistas, que possam contribuir em favor da Amazônia”, diz.

Atualmente, mais de 70 escolas, 2 mil professores e 12 mil estudantes participam do projeto, que tem como objetivo principal abordar o tema da água sob as perspectivas do corpo, do planeta, do bioma e da comunidade.

“Nosso foco é despertar nas crianças, adolescentes e professores um desejo de conhecer o seu território”, para que a partir dele ações sejam desenvolvidas e possam “verdadeiramente trazer transformações para aquele local e beneficiar a vida interligada, pois não temos como separar a realidade que acontece em nossas comunidades com a problemática global”, comenta Lucineide.

Fonte: Ecoa/UOL

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