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Quem paga a conta da autonomia do Banco Central?

Com a independência do BC, o governo pode ter dificuldades para a implementação de uma política monetária e fiscal comprometida com o projeto do desenvolvimento econômico e social

Minuta dos trabalhadores entregue nesta terça-feira (18) para a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban)

É importante destacar que historicamente o Sindicato sempre foi contrário ao Banco Central autônomo. Com a independência do BC, o governo pode ter inúmeras dificuldades para a implementação de uma política monetária e fiscal comprometidas com o projeto do desenvolvimento econômico e social. O que o mercado financeiro sempre quis foi ampliar ainda mais seus poderes para estabelecer suas próprias regras e mandatos. Ou seja, institucionalizar um outro poder, paralelo e permanente no centro de decisões estratégicas do país, sem passar pelo voto popular.

Não podemos esquecer que de março de 2021 a agosto de 2022 – durante o governo do presidente Jair Bolsonaro –, o Copom aumentou a taxa básica de juros 11 vezes seguidas por conta da inflação. A Selic, que estava em 2% ao ano, atingiu 13,75% ao ano. Não por acaso, no mês de junho, o presidente do BC, Campos Neto, participou de um jantar oferecido pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que deixou claro que, em um suposto governo, vai levá-lo para ser secretário ou ministro.

Hoje, vemos na prática que o Banco Central independente do Estado tem consequências graves para o país. O mercado financeiro está ganhando com os altos juros. Na avaliação do governo federal, cada ponto percentual da taxa Selic custa R$ 38 bilhões. Na prática, se a taxa estiver cinco pontos porcentuais acima do aceitável, o custo da dívida aumenta R$ 190 bilhões.

E não é só o mercado financeiro que ganha. É uma política, sustentada por um neoliberalismo que também beneficia algumas empresas. A falta de regulamentação das corretoras de valores, Fintechs e plataformas de serviços financeiros tem gerado altos lucros para os bancos e seus parceiros. Só que quem paga essa conta somos nós, trabalhadores. Estamos em um processo de plataformização do trabalho no setor financeiro brasileiro, desestruturando um segmento de trabalhadores e com impacto nas condições de trabalho.

Conforme dados da RAIS, entre 2013 e 2022, o emprego formal no Ramo Financeiro – excluindo a categoria bancária – cresceu 66%, passando de 333 mil para 555 mil vínculos, enquanto que a Categoria Bancária perdeu mais de 78 mil postos no mesmo período. O emprego bancário representava 60,5% de todo o emprego no ramo em 2013, já em 2022 o índice cai para 43,8%. Ainda que formais, estes trabalhadores possuem condições laborais em patamares bastante inferiores aos conquistados pela categoria bancária.

Estivemos, entre os dias 11 e 14, em Genebra, durante a 112ª Sessão da Conferência Internacional do Trabalho (OIT), em uma reunião tripartite setorial do evento, que reuniu o setor bancário e teve como tema “As tecnologias disruptivas como a IA e o futuro do trabalho dialogado, legislado e julgado”. O uso intensivo da IA faz com que compartilhemos dados de voz e imagens, assinaturas nossas, que são armazenados em bancos de dados que estão fora do nosso controle. Com o aumento da tecnologia no sistema financeiro o que estamos assistindo, também, é a transferência de riscos do negócio para os clientes. Precisamos ter uma regulamentação que traga ganhos e segurança para trabalhadores, empregadores e governos.

O presidente Lula, ovacionado durante o evento, ressaltou a Coalizão Global para a Justiça Social, que será uma ferramenta central para construir uma transição justa, com trabalho decente e igualdade, e para implementar a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Lula pontuou que há projeção de leve queda na taxa de desemprego mundial para este ano, mas a informalidade, a precarização e a pobreza são persistentes.

Fonte: Rede Brasil Atual

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